quinta-feira, 17 de março de 2011

Na vida real



Por Maisa Infante

Apresentadora e empresária, Mariana Weickert diz que leva uma vida normal e que a vaidade é importante, mas não se pode exagerar

Alta, magra e loira, Mariana Weickert é uma exceção em um País de mulheres mais voluptuosas, com quadril largo e formas arredondadas. Foi justamente por ter um biótipo perfeito para as modelos que ela resolveu seguir na carreira. Saiu de Blumenau , veio para São Paulo e, daqui, partiu para Nova York, onde ficou por seis anos. Há cinco anos, voltou à capital para participar de desfiles do São Paulo Fashion Week e, num rompante, resolveu que não retornaria mais para os Estados Unidos. Decretou o fim da sua carreira de modelo internacional em troca de dias com mais paz e menos solidão. Hoje, garante, é muito mais feliz.



A mulher que já desfilou para marcas poderosas como Alexander McQueen, Armani, Marc Jacobs, Givenchy, entre outras, mostra que tem uma vida normal, cheia de altos e baixos, preocupações, medos, erros, acertos, ansiedade, desejos. A praticidade, uma característica que fica bem evidente, é fruto do amadurecimento precoce, que a fez sair de casa com 16 anos para morar com um amigo da mãe e, ainda adolescente, se ver sozinha em Nova York, tendo que cuidar de cada detalhe da própria vida. “Eu limpava meu apartamento inteiro com sabão em pedra”, conta.



Hoje, Mariana mostra que não é porque faz parte do mundo da moda que sua vida é um deslumbramento. Pelo contrário. É completamente pé no chão. “A moda é minha profissão, mas não meu estilo de vida”, diz. E justifica: “Como toda mulher, eu gosto de moda. Mas não a encaro como muitos críticos, estilistas e modelos, que se alimentam das coisas do mundo da moda. Para mim é um business como outro qualquer, emprega pessoas, gera dinheiro, é lúdico também, gera ilusão, é artístico, mas é só um job”. Essa visão pouco comum para o chamado “mundo da moda” foi que fez Mariana abandonar a tão sonhada carreira internacional. E garante que nunca se arrependeu. “Costumo dizer que pago caro pela minha paz, financeiramente falando. Lá eu tinha plantado muito e ia começar a colher naquela hora. Então, quando falo que pago caro é pelo que deixei de ganhar. Mas me sinto muito mais em paz e feliz aqui. Lá eu tive muita sorte, trabalhei com todo mundo que eu sonhava trabalhar, fiz o que eu tinha que fazer. Mas esse mundo não me encantava mais”.



Nesse mês, Mariana estréia o programa Vamos Cominar, no canal GNT, no qual vai falar de moda e estilo com dicas práticas de moda, comportamento e beleza. “Na TV, a gente tenta democratizar a moda. Todo mundo tem acesso. Não tem porque colocar como inatingível uma coisa que está aí. Nada mais in do que um fast fashion”, diz.



Conforto e beleza



Embora muita gente discorde, moda combina com conforto. Nada pior do que estar por aí com uma blusa que incomoda, uma calça um tamanho maior ou menor ou um sapato apertado. Porém, muitas vezes, a moda que se vê nas passarelas ou na capa das revistas não funciona tão facilmente no corpo feminino. Foi pensando no conforto da mulherada que Mariana criou a marca de biquínis Alór. Feitas com uma borracha nada tensionada, as peças se propõem a ser superconfortáveis e a não marcar o corpo da mulher. “Eu quis fazer uma coisa real. Eu desfilava muito biquíni, fazia capa de revista e via que as peças não valorizavam o corpo. Quis fazer biquíni para a mulher real, que valorizasse qualquer tipo físico. Acho que a gente tem que usar a moda como informação. A partir daí cada um interpreta da sua maneira. O melhor amigo é o bom senso e o espelho”.



Para a maioria das mulheres, pode soar um pouco hipócrita esse tipo de afirmação vindo de uma mulher magra e alta que. Mas Mariana acha que isso é uma questão que passa pelo pessoal, pelo gosto, pela autoconfiança e, principalmente, pelo biótipo da pessoa. “É fato que eu tenho menos predisposição a engordar. Mas, ainda assim, tenho que equilibrar. Gosto de sair e beber, ir para boteco e sei que numa próxima semana preciso segurar. Não vivo sistematicamente em uma dieta. Por eu não ser mais modelo, me cobro menos. Devo estar uns 10 quilos acima do que estava quando desfilava, mas me sinto melhor hoje do que quando era muito magra”.



Com relação à sua própria beleza, Mariana conta que tenta ser o mais cuidadosa possível, mas sem cair no exagero. “Hoje, aceito e assimilo mais que vivo disso. Antes, eu era mais relaxada. Tanto que, a cada ano, sempre prometo que vou cuidar mais de mim. Porque eu era muito desprovida da vaidade, de uma forma que me atrapalhava. Hoje em dia tento ir à academia, por exemplo, mas sei que não vou como deveria. Tento prestar mais atenção em como me visto; tenho maquiagem na bolsa. Mas acho que é gradativo, não vou mudar de uma hora pra outra”. E revela que não tem paciência de usar hidratante e nem cremes noturnos para o rosto mas que, talvez um dia, se renda a pequenas cirurgias plásticas. “Se tiver que dar uma puxadinha eu puxo. Mas é preciso usar a tecnologia para o bem. E a mulherada por aí só está usando para o mal”, alfineta.



Vida fútil?



Se tem uma fama que o mundo da moda carrega e da qual não consegue se dissociar é de que se trata de um ambiente cheio de futilidades. A impressão que se tem é de que modelos e estilistas vivem em festas, baladas e eventos. “Essa é uma reputação que a profissão tem e não é à toa. Claro que toda unanimidade é burra, já dizia Nelson Rodrigues. As meninas saem de casa cedo demais, geralmente são do interior e, lá, as informações são um pouco mais difíceis. Então, chegam aqui no deslumbramento. De repente, estão na mesma festa que está todo mundo da (revista) Caras; fazem um desfile ou foto e já acham que são “a fulana”, deixam de estudar. Se ela vive bem sem evoluir, tudo bem. Isso é de cada um e tem muito de personalidade. Tem gente, por exemplo, que tem mais sede de informação e corre atrás. Mas que não é exigido muito, não é”.



Para Mariana, encarar a moda como um trabalho já é um começo para não se perder nesse ambiente de glamour e fantasia. Mesmo tendo saído de casa muito cedo e tido que amadurecer na marra, ela sempre soube que o fato de ser modelo não a faria viver em um mundo cor de rosa. Pelo contrário. Se ver sozinha em cidades grandes como São Paulo e Nova York só a fizeram encarar com mais seriedade ainda a profissão. No começo, ela, como qualquer mortal, pegava ônibus para circular por São Paulo. “Quando cheguei, fui morar com um amigo da minha mãe na Avenida Paulista e eu tinha que trabalhar. Em Blumenau, de onde eu vim, o dinheiro tem outro valor. Com R$ 50 reais, duas pessoas comem no melhor restaurante da cidade. Então, eu não tinha grana para pegar táxi todo dia. A intenção do meu pai era me ajudar com isso. Mas São Paulo é uma cidade cara, extremamente cara. Aí eu pegava ônibus, fazia baldeação, andava de metrô”.

Se hoje ela tem uma vida mais confortável, é resultado do trabalho, o que não significa que não é uma vida normal, como é comum pensarmos, já que se trata de uma pessoa que sempre está nas capas de revista e colunas sociais. “Eu trabalho, pago contas, tem obra na minha casa, preciso pagar os pedreiros. Todo mundo tem uma vida normal. Quem diz que não tem ou é mentira ou é infeliz. Porque não tem como você viver em um mundo cor de rosa. Impossível se alienar da realidade. A não ser aquelas pessoas que vivem de moda, se alimentam da moda e se alienam de todo o resto. Essa foi, aliás, uma das coisas que me fizeram voltar para o Brasil. Lá fora, para muita gente, a coisa mais importante do mundo era se Valentino fez a coleção azul ou vermelha. E eu não estou nem aí para isso”.

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