segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A vida, o trabalho, as memórias e o futuro de Mari Weickert








http://ffw.com.br/noticias/gente/entrevistao-a-vida-o-trabalho-as-lembrancas-e-o-futuro-de-mari-weickert/http://www.blogghttp://www.blogger.com/img/blank.gifer.com/img/blank.gif


Mari Weickert, em seu apartamento, em São Paulo ©Juliana Knobel/FFW

Aos 29 anos, Mariana Weickert observou, da primeira fila, muitas mudanças e acontecimentos da moda brasileira e internacional. Junto com Ana Claudia Michels, Luciana Curtis, Daniela Raizel, ela estava “lá” quando tudo começou a acontecer com força, no Morumbi Fashion, que começava a bombar os estilistas brasileiros e fortalecer a indústria. Mari era reconhecida como a menina que era a cara da Barbra Streisand ou a que tinha a tatuagem “made in Brazil” na lombar.

Hoje ela é uma das apresentadoras mais carismáticas da televisão e continua com o mesmo jeito intrépido que conquistou tantos editores, stylists e fotógrafos. Tranquila, Mari namora há dois anos e meio e tem como melhores amigos sua turma de Blumenau, cidade onde nasceu.

Nós estivemos na casa dela, um apartamento em um prédio projetado por Arthur Casas, todo ajeitadinho, muito acolhedor, daqueles que têm hortinha na varanda. Mari recebeu a equipe à vontade e de maneira aberta, respondendo a todas as perguntas com naturalidade e sua habitual simpatia. Durante a conversa, ela relembra seus principais trabalhos, a vida dura em Nova York, mostra seu interesse por política e diz o que pensa sobre as editoras de moda.

Como você está hoje?

Estou feliz, só que quero mais. Vivemos um processo evolutivo e nem com 80 estarei totalmente satisfeita. Mas vivo em paz com essa busca, nunca estive tão bem. Não sei se é uma questão de amadurecimento, mas você perde um pouco suas ideologias e acaba aceitando melhor as coisas.

Por exemplo…

Aprendi que não existe príncipe encantado, que as pessoas ao nosso redor têm defeitos sim. Hoje sou mais paciente, mais tolerante e perdi o tesão em algumas coisas. Antes eu buscava mais espiritualidade, uma coisa que deixei um pouco de lado.

Como está sua fé hoje?

Eu já fui a centro de umbanda, candomblé, igreja evangélica, gospel e templo budista. Eu gosto disso, tenho curiosidade. Estudei Física Quântica, li a “Operação do Cavalo de Troia” com 17 anos, eu pirava. Eu invejo quem tem fé, esse amor incondicional por uma coisa maior. Fico um pouco triste por ter deixado isso de lado, mas acredito que é uma fase.

Você também se interessa muito por política, não?

Já fui muito mais, especialmente na época que fazia o programa “Saca-Rolha”, com o Marcelo Tas e o Lobão. A gente ia para Brasília cobrir CPI.

E como era a reação das pessoas em relação a você ser uma ex-modelo?

A proposta nunca foi a de eu ser a bonitinha do programa… Eu quebrei o pau com o (Aloísio) Mercadante. Fui até chamada pela Band… Rolava uma inconsequência inocente naquela época.

Como foi essa história com o Mercadante?

O Palocci ainda era ministro, foi antes da história do caseiro Francenildo. E todo mundo sabia que o sonho do Mercadante era assumir o Ministério. Numa entrevista com ele, perguntei: você colocaria seu bigode no fogo pelo Palocci? “Onde você quer chegar?”, ele respondeu. E houve uma pequena confusão.


No início da carreira ©Reprodução

Voltando um pouco no tempo, no início da sua carreira, como era a vida de uma modelo em Nova York naquela época?

Morava em Tribecca e me proporcionava uma vida bacana. Mas quando cheguei, com 16 anos, fui morar com 12 meninas num apartamento paulada (risos). Fiquei lá por oito meses e depois fui morar com a Lu Curtis e a Dani Crispim. Também troquei de agência, fui para a Women, que era uma espécie de agência boutique. Eles tratavam a gente como rainha. Ganhei um bracelete da Hermès do dono, eles deixavam mimos nos hotéis, mandavam presentes.

E você entendia o valor disso tudo?

Nem sabia o que era um bracelete da Hermès! Tanto que só fui usar há pouco tempo. Não tinha noção da importância da Chanel… Minha referência era o editorial de moda da “Capricho”. E esse glamour todo era muito normal na época. Só hoje tenho noção de como era especial.

Você chegou a trabalhar com alguém muito importante, mas que não sabia quem era?

Desfilei para o Alexander McQueen sem nunca ter ouvido falar dele! A (stylist) Katy England também pediu para me conhecer pessoalmente e me bookou com exclusividade para o desfile dele. Foi Inverno 2000, quando ele montou uma pista de patinação inspirado no filme “O Iluminado”. A gente desfilava no gelo e eu apavorada, com aquele nome McQueen vibrando na minha cabeça. Depois disso fiz um monte de desfiles para ele.

Desfile do estilista Alexander McQueen de Inverno 1999/2000, em que as modelos desfilavam no gelo ©Reprodução

Hoje parece que as meninas já entram na profissão sabendo sobre todo mundo.

Hoje elas fazem um desfile do Valentino e já ficam íntimas dele, vão à casa dele, nas festas. Eu nunca fui a uma festa do McQueen ou na casa da Donatella Versace. Burra, né?

Você não tinha vontade?

Durante uma temporada, você dorme duas horas por noite, passa o dia em prova de roupa e fica esgotada. Queria distância de festa! E a gente era menina, todas muito novas. A única coisa que queria fazer depois do desfile era dormir. Eu, a Raquel Zimmermann, a Carol Bittencourt e a Omahyra ficávamos no hotel comendo biscoitos e vendo filme no laptop. E tudo aquilo rolando lá fora. Mas eu não achava graça nas piadas do povo da moda.

Que outros trabalhos importantes você fez naquela época?

Fiz uma campanha da Gucci com o Mario Testino e a Carine Roitfeld. Lembro que estava com uma saia de couro naquele dia e o Mario me falou: “Quando você estiver com a Carine, não precisa se vestir tanto assim”, algo como: “deixa ela brilhar”.

Rsrsrsrs. O que você acha das editoras de moda?

Algumas são tão perdidas e as pessoas ao redor fazem elas acreditarem que elas podem mudar o mundo a cada estação. Elas andam com entourage, entram no desfile a qualquer momento…

Mari novinha, em três momentos, entre eles, a capa da “V Magazine” ©Reprodução

Bom, e a tal campanha da Gucci?

Não saiu! Uma pessoa da agência me ligou e disse que não ia rolar. Depois eu viajei com o Testino para Napoles fazer o calendário Pirelli e fiquei sabendo que ele teve uma discussão com o Tom Ford. Foi uma grande briga de egos. Depois de dois anos eles voltaram a trabalhar juntos. Hoje eu saí do circuito, mas ainda tenho muito carinho pelo Mario. Ele me deu minha primeira capa da vida, para a “V Magazine”.

Que outra campanha te marcou?

Uma para o Marc Jacobs. Fiz muitos desfiles dele. Um dia, cheguei na prova de roupa e lá estava o Jurgen Teller (fotógrafo que assina os anúncios da marca). Eu usava aparelho na época e o Jurgen falou: “Mari, smile!” e quando eu virei, ele me fotografou. E essa imagem virou a campanha, num outdoor enorme em Nova York. Também fiz um editorial com o Stephen Sprouse para a “Vogue” espanhola (Mari tem uma camiseta que ganhou de presente do próprio, emoldurada e pendurada na parede da sala).

Camiseta de Stephen Sprouse, devidamente emoldurada ©Juliana Knobel/FFW

Até quando durou sua fase nos EUA?

Até 2004. Vim para São Paulo e nunca mais voltei. Percebi que não gostava daquela vida, aquele mundo não me alimentava mais. Fui adiando meu retorno e arrumando desculpas para não ir para o prêt-à-porter. Até que um dia minha mãe disse: “Você não vai mais voltar”.

Você conseguiu guardar algum dinheiro?

Quando voltei, vi que não tinha guardado nada. Eu fazia as grandes revistas, que não pagam… Foi bem quando resolvi vir para o Brasil que eu ia começar a pegar os trabalhos de grana. Nunca prestei atenção nos meus contratos. Quando comecei a trabalhar, buscava experiências na vida, era mais pela realização profissional e pessoal. Acho que muitos valores naquela época poderiam ser diferentes. Quando fiz Pirelli, por exemplo, ganhei R$ 10, R$ 15 mil, só que é um trabalho que paga muito mais do que isso. Eu nunca perguntei quanto ia ganhar e no final, tava sempre devendo para a agência. Fui muito desatenta.

E o que você foi fazer quando voltou ao Brasil?

Chegando aqui, tive milhões de dúvidas. Queria fazer Gastronomia, Direito, Ciências Políticas, só que aí começaram a surgir convites para a MTV. Em seguida fechei o Saca-Rolha, veio o GNT Fashion e agora o Vamos Combinar (no canal pago GNT). Aprendi muito na MTV, pois entrava ao vivo em horário nobre, por uma hora e meia.

Depois que você começou a fazer programas na TV, as pessoas começaram a falar com você na rua?

Sim. E às vezes é bom e outras não. Algumas pessoas já chegam fazendo a íntima. Mas é um processo bem natural, pois eu falo com um público muito específico, então não é que eu não tenho paz na rua ou algo desse tipo… Na TV fechada dá para manter tudo sob controle. E eu também nunca dei motivo para ninguém falar de mim e não instigo a curiosidade das pessoas em relação a minha vida pessoal.

Como é a sua relação com o seu corpo?

Hoje sou muito mais feliz do quando era modelo e tinha cinco quilos a menos. Olho e pergunto: como as pessoas deixaram? Eu me sentia linda, mas eram outros parâmetros. Eu lido bem com as transformações e não tenho medo de envelhecer. E vou usar a tecnologia a meu favor, uma coisa que a mulher ainda não entendeu.

Você se cuida, vai ao dermatologista, à academia?

Tenho um dermatologista que eu gosto muito, mas sou um pouco indisciplinada. Essa maquiagem que estou é de ontem…

Onde você foi?

Fui Mestre de Cerimônias em um evento. Essas coisas rolam muito. Na maioria das vezes não é divulgado, pois é para um público bem específico. Acho bem divertido fazer e interagir com as pessoas. Também tem que ter um bom jogo de cintura para conduzir o evento.

E além de dormir maquiada, que outros pecados você comete?

Não uso produtos todos os dias… Às vezes não passo nada. Imagino que não funciona assim, mas é melhor que não usar nunca! Uma coisa que me ajudou foi ter ido ao Dr. Hamilton, médico ortomolecular que foi indicado pela Sabrina Sato.

Quem são seus amigos hoje?

Todas de Blumenau! Tenho uma melhor amiga, a Lolô. De tão amiga, nós até usamos uma aliança no dedão da mão. No meio da moda também tenho ótimos amigos, o Paulo Martinez, o Rui Furtado. Marcos Campos e Alex Lerner também são amigões.

O que a Mari deseja para o futuro?

Estou numa fase de questionamentos. Não tenho certeza de nada. Casar, ter filhos, construir família… Não sei de nada. E eu estou em paz por não saber. Faço terapia e estou tranquila. Essas dúvidas são saudáveis e pertinentes e estarão comigo para a vida inteira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário