segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

"Pago caro pela minha paz", diz Mariana Weickert


Reportagem de 27 de julho de 2010

Logo nos primeiros minutos no apartamento em que Mariana Weickert vive sozinha, em São Paulo, percebe-se que a apresentadora é também uma anfitriã experiente. Uma champanheira daquelas com pedestal em sua ampla varanda e uma geladeira exclusiva para bebidas na cozinha são indícios de que ali mora uma festeira.



A ex-modelo de fato confirma que adora receber os amigos e conta que ainda cozinha para eles e para o namorado Bruno, com quem está há quase um ano e prefere não revelar o sobrenome. Tender é sua especialidade - e não apenas no mês de dezembro. "Como não vende o ano inteiro, na época do Natal compro logo uns cinco e congelo."
"Em Nova York não era feliz. Ficava enfurnada em casa,

era uma nerd. Só lia, lia, lia"





Aos 28 anos, Mariana é agitada e tem fala apressada, mas interrompe uma frase para dizer que descobriu recentemente o prazer de ficar sozinha. "Um dia sentei aqui no sofá e pensei: que delícia ficar tranquila, assistindo TV". Resultado da análise? "Talvez". Há mais de um ano a repórter do programa "GNT Fashion" bate cartão semanalmente no analista junguiano. "Terapia dizem que é para 'tu apagar' incêndio, né? Análise é para 'tu se conhecer'", compara, com resquício do sotaque de Blumenau, onde nasceu.




Em 2004, depois de morar seis anos em Nova York, Mariana deu uma reviravolta. No auge da carreira - já tinha posado para campanhas como Gucci e Marc Jacobs e aberto desfiles de alta-costura em Paris - ela veio passar quatro dias no Brasil e não voltou mais. Nem para pegar a mudança: mandou despachar pelo telefone. "Eu não era plena lá", diz ela, que abriu mão dos altos cachês de modelo. "Financeiramente falando, foi um preço alto. Não que eu paguei, mas eu deixei de ganhar. Pago caro pela minha paz."


Mariana ficou seis meses no País sem saber o que fazer e, antes de se matricular num curso de culinária só para ocupar o tempo, foi convidada para trabalhar na MTV. Depois passou pelo programa "Saca-Rolha", ao lado de Marcelo Tas e Lobão. Na atração do Canal 21, Mariana discutia até política e chegou a bater boca com a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy: "Ela era extremamente petulante".



Desde janeiro de 2008, voltou para o universo da moda, mas não em cima da passarela: divide com Lilian Pacce o comando do "GNT Fashion" e é também sócia da sofisticada grife de moda praia Alór. Confira o bate-papo com iG Gente..


"Eu discordava de muitas coisas na Moda. As pessoas se levarem muito a sério... O Valentino, a Anna Wintour. E já fotografei de blusinha na Lapônia num frio de menos 18 graus"





Por que, afinal, largou a carreira de modelo no auge?

Morei em Nova York seis anos e vim para o SP Fashion Week com a pretensão de ficar quatro dias e nunca mais voltei. Fiz todos os desfiles como de costume e tinha que ir direto para o prêt-à-porter de Nova York. Daí falei: 'Já faço há seis anos, 12 coleções, não vou. Vou direto para a temporada de Londres'. Não fui, eu criava desculpas. Não tive coragem de dizer 'não é isso que quero para mim'. Eu nunca ficava no Brasil com os amigos e a família e quando vinha, sempre tinha muito trabalho. Em Nova York eu não era a Mari animada, eu tinha uma personalidade totalmente diferente do que tinha aqui. Eu não era feliz, não era plena. Sou muito dependente de pessoas, de raízes, aqui eu tenho meus amigos, minha família. Lá eu sempre ficava pensando no final de semana, no feriado que eu teria um tempinho para vir para o Brasil. Eu não saia em Nova York, não conheço um restaurante legal do tempo que eu morava lá, uma boate legal. Só lia, lia, lia. Li (a série) "Operação Cavalo de Tróia", do J.J.Benítez. Ficava enfurnada em casa, era uma nerd.




O que não gostava de Nova York?

Acho fenomenal para ir passear, é o lugar mais incrível do mundo, mas para morar, fazer sua vida, para ir no supermercado e ter a tua rotina é muito difícil. Eu era muito esclarecida sobre ficar longe dos meus pais, dos meus amigos, meu maior problema era a solidão, porque por mais que tinha muita gente em volta, sempre era muito sozinha. Eu discordava de muitas coisas, de muitas pessoas da moda, aquilo não me preenchia mais, não me alimentava. Quando fotografei com as pessoas que queria e abri os desfiles que nem sonhava fazer, voltei.

Mariana na passarela da Água de Coco, em 2004: "Trabalho de modelo é assim, você investe, investe, investe para um dia colher os frutos. Você sofre, sofre, sofre pra um dia você começar a trabalhar bem"




Foi nessa época que decidiu fazer análise?

Não, é uma coisa nova na minha vida, estou com meu analista junguiano há um ano e pouco. Terapia eu já fiz antes, mas analise é novo. Terapia dizem que é para 'tu apagar' incêndio, né? Análise é para 'tu se conhecer'. Estou lá toda terça-feira, uma hora e meia.


O que você não gostava do mundo da moda?

No Brasil, a falta de pontualidade, porque lá fora isso não existe. E as pessoas se levarem muito a sério, como (o estilista) Valentino, (a editora da "Vogue" América") Anna Wintour. Não é que Anna Wintour seja assim, mas as pessoas fazem ela se tornar isso. Chega uma hora que as pessoas não têm mais parâmetro para saber o que é permissível. A falta de rotina do mundo da moda também. Ah, e o fato de você sempre fotografar o alternado, no verão você fotografa o inverno e vice-versa, ou seja, você está sempre morrendo de frio ou de calor. Fotografei de blusinha na Lapônia num frio de menos 18 graus.



O que o esse universo lhe deu de melhor?

Uma maturidade precoce, o que é bom e ruim. Sempre encarei o mundo da moda como minha profissão, então é preciso ter extremo profissionalismo, extrema disciplina, estudar aquilo que faz, é isso que vai te diferenciar das outras. Não é um nariz mais perfeito ou menos, vai muito além disso. Claro que eu devo ter deixado a desejar milhões de vezes, eu era uma menina, até hoje em dia, que é natural, ainda mais nós mulheres que temos uma briga hormonal mensal.



Aprendeu inglês nessa época?

Eu já falava antes. Desde que eu entrei no pré eu já falava inglês, era uma obrigação do meu pai, tanto que eu odiava, e ele falava que um dia eu e meu irmão (Max, um ano mais velho) iríamos agradecer.


"Nunca fui consumista nem compulsiva, mas eu sempre fiz questão de qualidade de vida. Sempre que eu ia pra Blumenau, fazia churrasco para os meus amigos, 200 pessoas"




Teve uma educação rígida?

Não rígida, mas sempre nos foi colocado que estudar era a única coisa que fazíamos, e por isso era a única coisa que deveríamos fazer bem. Meu pai é comerciante, ele tem joalheria lá em Blumenau e quando a gente passava de ano, com oito ou nove anos, ele fazia o que era muito sensato, fazia a gente se sentir útil, ajudando na loja. Na época de Natal, eu ficava no pacote. Sempre fui metida a vender, então me enfiava no meio das vendedoras e mais atrapalhava do que ajudava. Eu me sentia obrigada a ir lá e ajudar.



Quais são as suas ambições na TV?

Eu gosto sempre de manter o controle. Claro que TV aberta é sempre um sonho porque quando você está em TV fechada é o que você almeja, mas ao mesmo tempo é assustador, por causa da exposição. No começo ela te massageia o ego, mas depois se você se perde ali, você jamais reconquista tua paz. Ali você atinge a grande massa, ao invés de atingir 15 pessoas, você atinge 15 milhões. É um tesão, mas é assustador. Tudo seria muito bem pensado, seria gradativo.


Você entrou num programa que já tinha "dona". Foi difícil se impor? Como é o sua relação com a Lilian Pacce?

Eu e a Lilian temos visões diferente de coisas, mas eu acredito que sejam complementares. A gente tem vidas diferentes, somos de gerações diferentes, personalidades diferentes, mas tudo por um bem único, tudo para o mesmo programa. Nos vemos muito pouco. A logística do programa faz com que a gente tenha pouco contato, mais na época de fashion week. No fim temos uma relação ótima, a gente se respeita.


"Eu e a Lilian (Pacce) temos visões diferentes, vidas diferentes, somos de gerações diferentes, personalidades diferentes. Mas tudo por um bem único, tudo para o mesmo programa"





Gostaria de fazer algo completamente distante da moda na TV?

Adoraria. Eu acho isso instigante, tanto que quando eu fiz o "Saca-Rolha", que abrangia até política, foi um tesão. Comecei ao vivo na MTV com o Marcos Mion (em "Pé na Areia"). Mas não foi ali que o bichinho da TV me picou porque era um programa de game, não era uma coisa que me instigava. Daí o Rogério Gallo me convidou para fazer o "Saca-Rolha" com o Marcelo Tas e o Lobão, ali foi o tesão da minha vida. Eu sempre fui muito curiosa, sempre li demais e sou metida em tudo. Eu já gostava de política, ali era um programa que tinha essa pegada porque era a época de Mensalão e José Dirceu e a gente foi para Brasília cobrir CPI. Eu não tinha noção do peso que era o Marcelo Tas e o Lobão no País, eles eram meus amiguinhos, meus parceiros. Foram dois anos em um programa diário. Tiveram vários barracos, eu briguei com o (Aloísio) Mercadante, com a Marta Suplicy.



Mariana, Tas e Lobão em 2005, no "Saca-Rolha": "Tiveram vários barracos, eu briguei até com o Mercadante e com a Marta Suplicy. Ela era extremamente petulante"





Como foi a briga com eles?

Não era uma idealista, mas eu tinha acabado de chegar de Nova York, e lá eu pagava as minhas taxas e tinha os meus direitos. Quando cheguei aqui, eu nunca tinha lidado com o meu dinheiro porque era sempre minha mãe, o contador e o dono da agência que me ajudavam e vi o quanto eu pagava de imposto e a merda que era. Me senti no direito de questionar e rodar a baiana com quem eu quisesse. Não me lembro exatamente o que falei para a Marta, mas ela era extremamente petulante. Não sei no pessoal, mas como política é petulante por todas as declarações que ela deu, como o “relaxa e goza”. Eu não falo como pessoa, mas como eleitora.




Quem cuida do seu dinheiro?

Eu sou zero exemplo de 'business woman'. Meu irmão trabalha no mercado financeiro, meu namorado também, então eu acabo pegando muitas dicas. Hoje em dia estou cuidando mais. Nunca fui consumista nem compulsiva, mas eu sempre fiz questão de qualidade de vida. Como eu comecei a ganhar dinheiro muito antes das minhas amigas, isso era uma realidade distante entre a gente, então se você for ver como eu gastei meu dinheiro, eu não sei. Sempre que eu ia pra Blumenau, fazia churrasco para os meus amigos, 200 pessoas. Se comprava uma roupa para mim, comprava uma bota pra minha melhor amiga. Sempre fui assim, minhas amigas do Sul são minhas melhores amigas. Até uso aliança com uma delas, a Lolô (mostra o anel no polegar esquerdo


"Sempre acreditei na instituição casamento. Eu vim de uma cidade pequena, as pessoas se esforçam mais para a coisa acontecer. Não sei se por falta de opção do que fazer, ou se falta de opção de gente, mas o vinculo é de fato maior"




Qual é o seu papel na marca de biquínis, a Alór?

Motorista, office boy, palpiteira, costureira, estilista, decoradora, investidora. Eu sempre tive vontade de fazer uma coisa paralela, mas eu não sabia exatamente o quê. Uma amiga do Sul queria fazer biquínis e eu estava palpitando, quando vi, já tínhamos virado sócias. Aquilo é meu xodó, meu bebezinho, então a gente encontrou muitos diferenciais, então a gente está sempre investindo.



Por falar em bebezinho, você tem vontade de casar e ter filhos?

Sempre acreditei na instituição casamento. Essa coisa descartável que as pessoas banalizam me entristece um pouco. Acho bobo como algumas pessoas encaram isso. Eu não sei se é porque de onde eu vim, que é uma cidade pequena, as pessoas se esforçam mais para a coisa acontecer, não sei se por falta de opção do que fazer, ou se falta de opção de gente, mas o vinculo é de fato maior.




Conversa sobre casamento com o atual namorado?

Estamos juntos há 11 meses.


Mas acha que é com ele que você vai se casar?

A gente sempre acha que sim.

http://gente.ig.com.br/materias/2010/07/23/pago+caro+pela+minha+paz+diz+mariana+weickert+sobre+abandonar+a+carreira+de+modelo+9544933.html

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